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Confira tudo o que você precisa saber sobre baterias em barcos

By | Mundo Náutico | No Comments

Sem elas, nenhum barco a motor vai a lugar algum. Mas poucos donos de lanchas dão a devida importância a este equipamento tão fundamental quanto o próprio motor. Você já deve ter vivido isso. Planeja o passeio, convoca a família, convida os amigos, liga para a marina mandando colocar a lancha na água e, lá chegando, liga a chave, aciona a partida e… nada. O motor mal se move.

 
Pronto! Lá se foi o passeio. E por causa da bateria, que está descarregada. Para evitar isso, há alguns cuidados a serem tomados, mas o primeiro de todos é saber se a bateria está dimensionada para a carga necessária a bordo.

 

Dimensionar as baterias de um barco é algo que exige certa habilidade com números, mas não chega a ser complicado. Mas, antes de mais nada, é preciso compreender como se mede a carga de uma bateria, o que é dado em Ah ou “ampères-hora” e que, ao contrário do que muita gente imagina, não significa ampères “por” hora. Esta medida apenas indica a corrente elétrica constante liberada durante um período de 20 horas, antes de a bateria ficar sem carga.

 
Para saber de quanto é essa corrente, basta dividir o número de Ah por 20. Assim sendo, uma bateria de 100 Ah, por exemplo, proporciona 5 A durante 20 horas, entendeu? Com base nisso, defina quantos aparelhos elétricos e eletrônicos terão de ser alimentados pela bateria e se a rede de energia a bordo é de 110/220 V e 12 V (por meio do uso de um inversor) ou apenas 12 V.

 
Em seguida, faça uma lista de todos os aparelhos a bordo e verifique qual a potência de cada um (para aparelhos de 110 V) ou o consumo em ampères (para aparelhos de 12 V).

 
Vamos supor que você queira instalar um forno micro-ondas (cuja potência é de 1 300 W), uma tv (200 W), duas bombas de porão (5 A cada), uma bomba de água doce (6 A), luzes de fundeio (1 A) e um gps de 5 polegadas com sonda (1 A).

 
Nesse caso, você deve transformar em ampères todas as medidas e somar. Para fazer essa conversão, divida o valor indicado em Watts por 12. No caso da tv, por exemplo, 200 W ÷ 12 = 16,7 A. Faça, então, uma estimativa de quanto tempo utilizará cada aparelho por dia e multiplique esse tempo pela potência do aparelho.

 
Para a tv, três horas por dia estão de bom tamanho. Para o micro-ondas, calcule no máximo meia hora. Gps com sonda, cerca de oito horas. Luzes de fundeio, outras oito horas/dia. E assim por diante. No caso da tv, a conta seria 16,7 A x 3 horas, o que dá 50 A/dia. O micro-ondas, 55 A/dia. O gps com sonda, 8 A/dia. Pronto: é só somar tudo e obter o consumo diário estimado para a sua lancha.

 

Por fim, para ter uma margem de segurança de dois dias sem ter de recarregar as baterias, multiplique o consumo total por dois. Assim, se o consumo diário foi de aproximadamente 140 A, a capacidade das baterias deve ser de 280 Ah (ampère-hora). Como não existe uma bateria com tanta energia, é preciso montar um banco com algumas delas — por exemplo, duas baterias de 150 Ah, ou quatro de 75 Ah.

 
Lembre-se, contudo, que não é recomendável ligar todos os aparelhos ao mesmo tempo, pois as baterias não geram toda a energia que o fabricante estipula em Ah na embalagem. Este valor representa o que ela libera em 20 horas diretas.

 
Ou seja, uma bateria de 100 Ah gera 5 A por 20 horas seguidas. Desse modo, com o nosso hipotético banco de baterias só seria possível ligar, ao mesmo tempo, aparelhos com o consumo somado de até 30 A.

 
Uma última precaução: o banco de baterias não deve estar conectado diretamente ao motor, sob o risco de ficar sem partida, caso elas descarreguem. O motor exige uma bateria exclusiva para ele. Mas, durante a navegação, é recomendável ligar o motor ao banco de baterias, para recarregá-las.

 
Algumas dicas para não ficar sem bateria na hora H:

 

  • Ligar ou mandar ligar o motor pelo menos uma vez por semana:

 
Baterias do tipo chumbo-ácido têm uma taxa natural de autodescarga mensal que vai de 1% nas melhores marcas (feitas com ligas de PbCa/chumbo-cálcio ou PbCaAg/chumbo-cálcio prata) a 10% nas mais comuns (liga de PbSb/chumbo-antimônio).

 

  • Mas outros fatores também aceleram a autodescarga, como temperatura ambiente elevada, alta umidade e tempo de uso da bateria. Por isso, mesmo que não pretenda sair com o barco, ligue (ou peça para alguém da marina ligar) o motor pelo menos uma vez por semana, a fim de repor essa perda natural de energia de toda bateria.

 

  • Aguardar um tempo entre uma tentativa e outra de partida:

 
Por duas razões básicas: a primeira é que a energia elétrica da bateria vem de uma reação química. Portanto, deixá-la “repousar” entre uma tentativa e outra permite que essa reação se complete, “acumulando” assim energia suficiente para a próxima tentativa. E a segunda razão é evitar superaquecimento do motor de arranque.

 

  • Só usar baterias do tipo “náutico”:

 
Há algumas características importantes que as baterias para uso náutico têm que as comuns, de automóveis, costumam não apresentar, como capacidade de operar inclinadas, maior resistência a temperaturas elevadas, maior controle da emissão de gases nocivos, maior resistência mecânica da estrutura, menor taxa de autodescarga e maior vida em ciclos de carga-descarga.

 

  • Ao recarregar a bateria, faça isso bem lentamente:

 
A corrente elétrica máxima para recarregar uma bateria é de 10% do valor de sua capacidade. Exemplo: uma bateria de 100Ah deve receber, no máximo, 10Ah. Correntes maiores que isso geram superaquecimento, o que causa danos permanentes. E baterias armazenadas por muito tempo devem ser carregadas com correntes ainda menores, perto de 5%.

 
Quanto cada coisa consome.

 
O consumo médio de energia dos equipamentos mais frequentes em um barco:

 
amperes / horas uso/ amperes dia

 
luz da âncora 0,80 12h00 9,60
Guindaste da âncora 150,00 0h12 30,00
Piloto automático 0,70 8h00 5,60
Exaustor do porão 6,50 0h12 1,30
2 ventiladores na cabine 0,20 48h00 9,60
3 lâmpadas fluorescentes p/ a cabine 0,70 12h00 8,40
1 lâmpada incandescente p/ a cabine 2,10 1h00 2,10
1 lâmpada p/ mesa de navegação (10 W) 0,80 0h30 0,40
Iluminação da bússola 0,10 8h00 0,80
Iluminação do convés 6,00 0h30 3,00
Sonda de profundidade 0,20 8h00 1,60
Indicador de combustível 0,30 24h00 7,20
GPS 0,50 8h00 4,00
Inversor 0,20 2h00 0,40
Forno de micro-ondas (600 W) 100,00 0h06 10,00
Bomba de porão 15,00 0h06 1,50
Bomba de água doce 6,00 0h02 0,20
Bomba do tanque de esgoto 2,00 3h00 0,10
Radar 4,00 4h00 16,00
2 lâmpadas halogênicas p/ leitura 0,80 4h00 3,20
Geladeira 5,00 12h00 60,00
Luz de navegação 2,50 8h00 20,00
Luz de navegação tricolor 0,80 8h00 6,40
Toca-fitas 1,00 2h00 2,00
Televisão (13 polegadas) 3,50 2h00 7,00
Hodômetro 0,10 8h00 0,80
SSB (receptor) 30,00 0h12 2,50
SSB (transmissor) 30,00 0h12 6,00
Videocassete 2,00 2h00 4,00
VHF (receptor) 0,50 4h00 2,00
VHF (transmissor) 5,00 0h12 1,00
Indicador de vento 0,10 8h00 0,80
DVD 1,10 4h00 4,40

 
Como recarregar? As respostas para as dúvidas mais frequentes:

 

  • O tempo para recarregar uma bateria depende da potência do carregador?

 
Não. Uma bateria obtém energia a partir de uma reação química. Para recarregá-la, é preciso “reverter” esta reação, aplicando uma tensão (V, de volt) e uma corrente elétrica (A, de ampère).

 
Este processo ocorre em uma velocidade própria, que, quando não respeitada, gera um recarregamento apenas parcial e pode danificar a bateria para sempre. Em geral, o tempo de recarga deve ficar entre 8 e 12 horas, independentemente da potência do carregador de energia de toda bateria.

 

  • Usar o alternador do motor é bom para recarregar a bateria?

 
É uma forma simples, mas precária. Na maioria dos casos, o conjunto alternador/regulador fornece tensão entre 13 V e 14 V e correntes elevadas. Com isso, uma bateria descarregada receberá uma corrente acima da recomendada e, na medida em que sua carga for aumentando, a tensão do alternador se tornará insuficiente para continuar o processo de recarga. Resultado: uma recarga parcial (de 70% a 80% da capacidade), além da diminuição na vida útil da bateria.

 

  • Painéis solares são eficientes para recarregar uma bateria?

 
São bons para manter as baterias carregadas quando o barco não estiver em uso, suprindo assim a “autodescarga” que toda bateria sofre. Um painel solar moderno, rígido ou flexível, com 0,6 m x 0,3 m, pode gerar até mais mais de 100w, reduzindo espaços e ampliando as possibilidade de locais de instalação. Essa tecnologia evoluiu muito nos últimos dez anos.

 
Para recarregar uma bateria de 150 Ah (ampères/hora), com meia carga, ele exigirá, portanto, cerca de 53 horas de sol forte. E se for um painel flexível, subirá para 120 h! Portanto, convém avaliar se o investimento em painéis realmente vale a pena, caso o principal objetivo seja recarregar baterias.

 

  • E os geradores eólicos, muito usados nos veleiros?

 
Sim, mas com ressalvas. A maior vantagem dos geradores eólicos é funcionar dia e noite, pois não dependem da luz solar, como os painéis — mas, desde que os ventos estejam acima dos 10 km/h. Para um gerador médio, com um diâmetro próximo de 1,2 m, ventos de 20 km/h podem gerar em torno de 3 A (14 V).

 
É, portanto, uma boa opção para quem navega em locais de vento constante, como o Nordeste, por exemplo. Mas, mesmo nessas condições, serão necessárias mais de 25 horas para deixar uma bateria de 150 Ah a meia carga. O investimento é alto e a interferência estética no barco, grande, além do que, nos modelos com três pás, o ruído gerado em ventos mais fortes é muito incômodo.

 

  • Por que não se deve deixar um carregador comum ligado à bateria por muito tempo?

 
Porque, em geral, eles operam com corrente constante, ou seja, vão aumentado a tensão sobre a bateria na medida em que ela se carrega. Esta tensão não deveria ultrapassar 14,8 V ou 15 V. Dentro desse limite, evitaria o superaquecimento e a decomposição do líquido da bateria. Ocorre, contudo, que este tipo de carregador não tem capacidade de ir diminuindo a corrente/tensão. Por isso, pode danificar a bateria se não for desconectado a tempo.

 

Já no caso de carregadores com capacidade de flutuação, a coisa é bem diferente e a eficiência e segurança é muito maior.

 
O que levar em conta ao instalar?

 

  • Peso. Uma bateria pesa cerca de 45 quilos e quanto mais abaixo da linha d’água e centralizada ela estiver, melhor para a estabilidade do barco.

 

  • Ventilação. Toda bateria emite gases potencialmente perigosos, o que exige bom sistema de exaustão — além disso, boa ventilação evita o aquecimento inadequado delas.

 

  • Acesso. É fundamental que estejam à vista. Baterias “escondidas” são um incômodo e risco. Instale-as o mais próximo possível do motor. Assim, você evita a perda de energia através dos cabos. Se isto não for possível, use cabos de maior diâmetro.

 

  • Tipos. Nunca misture baterias velhas com novas, porque as já usadas comprometerão a durabilidade das novas.

 

Fonte: Revista Náutica

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Enjoo em alto mar? Veja algumas dicas para prevenir esse mal-estar

By | Mundo Náutico | No Comments

Dependendo da situação, a grande maioria das pessoas enjoa no mar. E o maior problema é que, depois que o mal-estar começa, não há remédio que dê jeito. Mas prevenir é possível! Veja como:

 
Só quem já sentiu na própria pele — ou, melhor dizendo, no estômago, embora o principal causador não seja ele — o desconforto causado pelo balanço intermitente de um barco na água, sabe o quanto o enjoo incomoda. E raros são os que nunca sentiram isso, já que a grande maioria das pessoas enjoa no mar.

 
Mas só mesmo quem já teve vontade de se atirar na água e voltar nadando em busca de alívio imediato sabe, de fato, o quanto o enjoo no mar pode perturbar — bem mais do que apenas “incomodar”. Quando isso acontece, tudo o que se quer é sair dali. E uma pergunta fica martelando na cabeça: por que eu vim?

 
Geralmente, o enjoo começa com um ou outro bocejo, acompanhado de uma leve tontura. Em seguida, o rosto vai ficando pálido e o corpo, pesado, como se estivesse fatigado. Logo depois, vêm as náuseas — que tanto podem ser leves quanto evoluírem para o vômito, dependendo do organismo de cada pessoa.

 
E o pior é que vomitar nem sempre traz alívio imediato. Muitas vezes, não traz alívio algum e ainda faz com que as outras pessoas também fiquem enjoadas. Ou seja, acaba o passeio de todo mundo e não apenas de quem está mareado. É um transtorno só!

 
Além disso, surge uma sensação de cansaço, tão insuportável que tira a disposição até mesmo para conversar. Por isso, a pessoa enjoada quase sempre fica calada e recolhida num canto do barco (muitas vezes na cabine, o que é pior ainda, porque a falta de ventilação só agrava o mal-estar), na esperança de que o enjoo vá embora sozinho.

 
Até porque a “vergonha” de estar naquela situação constrangedora, enquanto todos os outros a bordo se divertem, é ainda mais humilhante. Nessas horas, tudo o que se quer é chegar logo onde quer que seja ou tentar dormir, sonhando em acordar como quem desperta de um pesadelo.

 
Exagero? Quem costuma sofrer deste mal, que os médicos chamam de “cinetose” ou “enjoo do movimento”, sabe muito bem que não existe exagero algum nisso. E quem já testemunhou alguém profundamente mareado a bordo sabe o quanto os outros passageiros sofrem junto.

 
Seja pela preocupação com a vítima (que pode até desidratar seriamente, se não parar de vomitar, especialmente se for criança) ou porque o próprio passeio pode terminar mais cedo, justamente por causa disso — já que, às vezes, a única saída é retornar ao porto e desembarcar a pessoa.

 
Mas, uma vez em terra firme, tudo passa em questão de minutos. Porém, nem todo mundo enjoa da mesma maneira. Há os que sentem apenas uma leve zonzeira, enquanto outros desabam logo nos primeiros balanços do barco. Estes, em geral, padecem do mal desde a infância, quando até as curvas de uma estrada sinuosa ou certos brinquedos de ação do parquinho de diversões transformavam-se em pesadelos instantâneos.

 
A diferença é que, naqueles casos, bastava parar e descer. Já num barco fica mais difícil e, por isso, é preciso estar preparado para lidar com a própria propensão a enjoar. Antes de mais nada, é preciso saber que dormir pouco, beber muito ou comer exageradamente antes ou durante a saída de barco são um atalho certeiro para a indisposição.

 
Além disso, recomenda-se evitar fumar, comer doces, tomar café ou qualquer outra bebida à base de cafeína, como a Coca-Cola, que, inclusive, erroneamente costuma ser sugerida como antídoto para os desarranjos estomacais. Nada poderia ser mais bombástico para um mareado…

 
O correto é: quem costuma marear deve procurar um médico, que, muito provavelmente irá receitar um antiemético, nome que se dá aos medicamentos contra enjoo. Ele deve ser tomado bem antes de embarcar no barco, de preferência já no dia anterior, porque depois que o enjoo começa os remédios são de pouca serventia. O enjoo é o típico caso em que prevenir é mesmo o único remédio.

 
Deve-se, também, ficar sempre fora da cabine e onde o balanço do barco seja menos perceptível, como na popa e jamais na proa. Mas é necessário fugir de cheiros fortes, como o de combustível ou comida, e tentar olhar só para o horizonte, evitando movimentar a cabeça.

 
Outro cuidado importante é sentar-se perto da borda de sotavento (ou seja, por onde o vento “sai” do barco), para, caso precise vomitar, o vento levar tudo para a água — e não para dentro do barco, o que fatalmente fará com que os outros passageiros enjoem e até vomitem também.

 
Entrar na cabine, ficar olhando para baixo ou tentar ler é tudo o que não se deve fazer. Procedimentos assim funcionam como um gatilho para o enjoo e levam, inevitavelmente, ao mal-estar estomacal, embora não exista nada de errado com o estômago e sim com o cérebro, porque é ele que está recebendo informações contraditórias, principalmente dos olhos e do labirinto, uma parte do ouvido responsável pelo equilíbrio do corpo.

 
Assim, enquanto o labirinto informa ao cérebro que a cabeça está se movendo, os olhos mostram que tudo está parado. E é este conflito que embaralha o sistema nervoso central, que tem como uma de suas funções comandar os movimentos e a postura do corpo.

 
O resultado dessa confusão é uma espécie de pane de comandos e uma série de alterações orgânicas, como contração do estômago, secreção de sucos gástricos, tontura, suor frio, mal-estar, vômitos, fraqueza e palidez — que podem piorar muito se o enjoo for prolongado e o mareado acabar ficando desidratado. Daí a recomendação de, após seguidos vômitos, servir água para a pessoa mareada.

 
“A causa mais comum do enjoo do movimento é a hipersensibilidade do labirinto, mas o problema pode, também, ser provocado por uma labirintopatia, aquilo que de maneira geral chamamos de labirintite”, explica Fernando Ganança, especialista em otoneurologia, ciência que estuda a audição e o equilíbrio do corpo.

 

 

“Mas este problema só é encarado como doença quando traz limitações sérias ao cotidiano da pessoa, como quando uma criança não consegue sequer ir para a escola sem ficar enjoada no carro”, completa. Portanto, relaxe: não há nada de errado com o fato de você, eventualmente, ficar enjoado.

 
Mesmo quem vive na água está sujeito ao “mal do mar”. Se serve de consolo, grandes navegadores também enjoam. Amyr Klink, por exemplo. Mas também é verdade que, com o tempo, o corpo se “acostuma” aos movimentos do barco e a pessoa passa a enjoar cada vez menos. Tanto que já existe até um tipo de treinamento para isso, chamado “reabilitação vestibular”.

 
Remédios: para prevenir, não para remediar

 
Se você sabe ou suspeita que pode ficar mareado, deve tomar algum remédio contra enjoo um bom tempo antes mesmo de embarcar. A tontura, náusea, suores frios, palidez e outros sintomas ligados ao enjoo do movimento são causados pelo aumento de uma ou mais substâncias no organismo, chamadas receptores neurais, como a dopamina, histamina, serotonina e acetilcolina, que afetam as estruturas relacionadas ao vômito e ao equilíbrio.

 
São nestes receptores neurais que agem os medicamentos — boa parte deles vendidos livremente nas farmácias, embora com um ou outro efeito colateral. Por isso, o correto é sempre consultar previamente um médico, para que ele indique o medicamento mais eficaz e o modo mais seguro de usá-lo.

 
Esta regra se aplica, também, aos medicamentos fitoterápicos e homeopáticos. Os primeiros podem provocar efeitos tóxicos, se não administrados corretamente. Já os homeopáticos podem simplesmente não surtir efeito algum — mas, em situações de emergência, podem ser tomados em conjunto com os convencionais, pois não ‘brigam’ com eles.

 

 

De todos os medicamentos do gênero, o mais popular é o Dramin, que é considerado seguro, mas com o inconveniente de provocar sonolência, o que pode acabar com a graça dos passeios. Mas também são bastante usados o Dramamine, Plasil, Meclin, Stugeron e até Buscopan e Racutan.

 
As reações (boas ou ruins) aos fármacos, contudo, variam de uma pessoa para outra. Por isso, algumas preferem alternativas como os adesivos de escopolamina, que liberam o medicamento gradualmente por até três dias, ou, ainda, acupuntura e outros métodos naturais. Certo mesmo é que não adianta tomar o remédio que for quando o enjoo já começou. O correto é tomá-lo sempre antes, bem antes, de embarcar, para dar tempo de fazer efeito.

 
Para os que enjoam, uma boa notícia: já existem exercícios que “acostumam” o corpo aos balanços de um barco. Trata-se de uma forma de terapia ainda pouco conhecida, baseada em exercícios frequentes para os olhos, cabeça e corpo, que estimulam a parte do labirinto que responde pelo equilíbrio — como uma espécie de simulação do balanço do mar.

 
Exercícios contra o enjoo: o que você pode praticar, em casa, para não sofrer no barco

 

 

  • Com a cabeça fixa, movimente seguidamente, por dez vezes, os olhos para a direita e a esquerda. Depois, repita o exercício erguendo os olhos para cima e para baixo.
  • Com um dos braços estendido, aproxime e afaste o dedo indicador do nariz, acompanhando o movimento com os olhos. Faça isso até que sinta um ligeiro desconforto, ou seja, quando seu braço começar a perder força e coordenação.
  • Movimente a cabeça alternadamente para a direita e para a esquerda, para cima e para baixo. Faça isso o mais rápido que conseguir.
  • Dando uma de malabarista, jogue uma pequena bola de uma mão para a outra, fazendo-a passar por cima da cabeça. O mais importante é acompanhar os movimentos da bola com os olhos.
  • Com um dos braços estendidos, acompanhe com os olhos e a cabeça fixa, o dedo indicador em um movimento que descreva um grande círculo, nos sentidos horário e anti-horário.
  • Sentado, jogue uma bolinha para cima, pegando-a com a mesma mão. Acompanhe o movimento com os olhos. Faça isso 20 vezes. E repita o processo em pé.
  • Novamente de pé, jogue a bolinha na parede e pegue-a de volta, sem desgrudar os olhos dela.
  • É o exercício mais simples — e o mais cansativo. Sente e levante de uma cadeira por dez vezes seguidas.
    Fique descalço e ande em linha reta, tomando o cuidado de manter a cabeça erguida e olhando sempre para a frente, como uma modelo na passarela. Faça isso entre três e cinco minutos.
  • Em seguida, sem parar, ande por mais alguns minutos em linha reta, olhando para os lados, alternadamente para a direita e a esquerda.
  • Continue andando em linha reta, só que agora olhando para cima e para baixo, alternadamente.
  • De pé, levante um dos joelhos e passe uma bolinha por baixo da coxa. Repita o movimento, com o lado oposto.

 

 

“Normalmente, são necessárias cerca de oito a doze sessões no consultório de um otoneurologista para surgirem os primeiros resultados”, diz Fernando Ganança. “Depois disso, o paciente aprende os exercícios e pode fazê-los em casa mesmo”.

 
“Com a reabilitação vestibular, o organismo da pessoa se acostuma de tal forma com a movimentação que o balanço do barco vira apenas mais um deles e o corpo nem sente”, completa a otorrinolaringologista Maria Cristina Cury, professora da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto.

 
É um sopro de esperança para quem vive dependente de medicamentos contra enjoos (Dramin, adesivos de escopolamina, etc., etc.), que por atuarem no sistema nervoso quase sempre causam sonolência. E sonolência, tal qual o próprio enjoo, também tira a graça de qualquer passeio no mar. Portanto, o negócio é prevenir, porque, depois que o enjoo começa, nem remédio ajuda. Só mesmo voltar para terra firme.

 
15 truques para (tentar) não enjoar

 

 

  1. Tome remédio contra enjoo no mínimo uma hora antes de embarcar, para dar tempo de fazer efeito, já que os medicamentos são preventivos, não corretivos.
  2. Durma bastante e bem no dia anterior e não tome nenhum tipo de bebida alcoólica na véspera. Cansaço e ressaca não combinam com o balanço do mar.
  3. Alimente-se normalmente antes do passeio, mas sem exageros. Estômago cheio provoca enjoo. Vazio demais, também.
  4. A bordo, evite gorduras, temperos, coisas demasiadamente salgadas ou bebidas com cafeína, como, por exemplo, Coca-Cola. Fumar também pode.
  5. Evite entrar na cabine ou olhar para baixo. Pode dar tontura na hora. Se for sair para pescar, apronte todo o material antes de subir no barco.
  6. Se tiver que entrar na cabine, evite fazê-lo no início do passeio, a fim de permitir que seu organismo, pelo menos, se acostume um pouco com o balanço do corpo.
  7. Nem tente ler, fotografar, cozinhar, olhar pelo binóculo e ficar mandando mensagens pelo celular, porque tudo isso acentua o mal-estar.
  8. Escolha um lugar confortável e bem ventilado do convés para ficar. Mas sempre do lado de fora! É melhor sentir frio do que ficar zonzo dentro do aconchego da cabine.
  9. Mantenha o olhar fixo no horizonte, quando o barco estiver em movimento, sem ficar olhando para a água, e tente não pensar em nada.
  10. Não tente ficar compensando o balanço natural do barco com o seu corpo. Faça como se estivesse montado num cavalo: suba e desça com o movimento dele.
  11. Fique na popa, onde balança menos nos barcos pequenos, mas bem longe de qualquer tipo de fumaça de motor, o que, infelizmente, é frequente nas lanchas.
  12. Só coma alimentos fáceis de digerir e em pequenas porções de cada vez, durante o passeio. E beba bastante água. Ficar sem ingerir nada deixa a pessoa debilitada.
  13. Deitar logo após comer pode provocar náusea intensa. Dê um tempo após cada lanche. Mas, se o enjoo apertar, deite e fique de olhos fechados.
  14. Se enjoar, tente dormir. O sono ajuda a recuperar as forças, faz passar o tempo e permite conviver melhor com o mal-estar.
  15. Se resolver dar um mergulho no mar, evite beber água salgada, porque ela costuma provocar enjoo imediato — apesar de muitas pessoas dizerem o contrário.

 

 

O que pode e o que não pode:

 

 

As comidinhas e bebidas que fazem bem — ou bem mal — para os mareados.

 
O que pode: pão, bolacha água e sal, banana, melão, granola, arroz, água sem gás, suco de fruta, água de coco.

 
O que não pode: salgadinhos, biscoitos em geral, doces em geral, carne, maionese, camarão, cerveja, refrigerante e bebidas destiladas.

 
Enjoo: o que é mito e o que é verdade?

 

 

“Embarcar de estômago vazio evita o enjoo”: mito! O certo é alimentar-se normalmente antes, mas apenas com refeições leves.

 
“Fechar os olhos diminui o desconforto causado pelo enjoo”: verdade, porque cessa o conflito entre as informações vindas da visão e do labirinto.

 

 

“Beber refrigerante alivia a náusea, já que provoca arrotos”: Mito. As bebidas gasosas aumentam a sensação de estômago cheio e, por isso, fazem o enjoo piorar.

 
“É possível habituar-se ao balanço dos barcos”: Verdade, porque, com o tempo e as saídas frequentes de barco, o organismo se adapta aos estímulos que provocam o enjoo do movimento.

 
“Os medicamentos são inúteis depois que o enjoo já começou”: Verdade. Eles devem ser tomados preventivamente antes dos estímulos conflitantes que desencadeiam o enjoo. Depois, pode ser difícil até reter o medicamento no estômago.

 
“Bebês não sofrem de enjoo causado pelo movimento”: Verdade! Crianças recém-nascidas não têm, ainda, o sentido da visão completamente desenvolvido e, por isso, não sofrem com o “equívoco” das informações.

 
“Conversar evita enjoar”: Mito. Conversar apenas distrai. Mas pode atenuar o desconforto se a pessoa ficar olhando para fora do barco e não para a outra pessoa diretamente.

 
“Pilotar o barco é bom para combater o enjoo”: Verdade. O piloto tem o controle parcial da situação e isso ajuda a diminuir o conflito de informações que gera o enjoo.

 

 

Fonte: Revista Náutica

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Gambiarras elétricas a bordo ajudam ou atrapalham?

By | Mundo Náutico | No Comments

 

 

A cultura da gambiarra está tão enraizada no DNA do brasileiro que é comum encontrarmos memes na internet mostrando os mais criativos improvisos com os dizeres: “o brasileiro precisa ser estudado pela NASA.” Com a popularização das redes sociais, as gambiarras subiram de patamar, sendo compartilhadas em tutoriais e aprimoradas, com ampla gama de versões disponíveis.

 

E no mundo náutico não poderia ser diferente. Enquanto muitos comandantes se orgulham do seu talento MacGyver, outros tentam esconder suas adaptações envergonhados, mas sejamos justos: quem nunca fez uma “gambi” que atire a primeira pedra!

 

Muitas vezes por falta de conhecimento de normas e padrões, outras, para diminuir custos, encontrar alternativas para equipamentos difíceis de serem encontrados no mercado nacional ou, até mesmo, para se safar de uma pane em locais remotos, fato é que “dar aquele jeitinho” pode salvar o dia. Mas afinal, a gambiarra é uma vilã ou aliada?

 

Para avaliarmos essa questão, primeiramente precisamos esclarecer o conceito comum do qual esse artigo trata, no qual gambiarras são improvisos, geralmente criativos e de baixa qualidade estética, que solucionam problemas usando peças que serviriam para outros fins, mas, quando adaptadas, atendem a outra necessidade imediata. Muitas vezes desconsideram alguns pontos das normas e padrões técnicos.

 

Mas falando de normas e estreitando o assunto para área de elétrica náutica, às vezes, fica difícil segui-las uma vez que a maioria dos eletricistas e donos de barco tem como referência mais próxima apenas a NBR 5410 elaborada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). O problema é que ela diz claramente que não se aplica a embarcações e não havendo outra específica, não resta muita alternativa para referenciar as instalações em embarcações de pequeno porte.

 

Então, seria um pouco injusto dizer que por estar fora da norma é uma gambiarra, afinal, o ambiente náutico é mais hostil que o preconizado pela NBR 5410. Questões como umidade, maresia, aterramento em água, uso de baterias e de extra-baixa tensão (menor que 50 volts) e instalações em ambientes com potencial explosivo devem ser levadas em consideração, demandando adaptações técnicas.

 

Mas essas adaptações são gambiarras?

 

Bem, algumas podem ser, outras já foram muito bem desenvolvidas de maneira independente por eletricistas e engenheiros brasileiros, mas há práticas que já foram amplamente estudadas e testadas. Países como Austrália e Nova Zelândia, possuem padrões elétricos para embarcações de esporte e recreio obrigatórias por lei, a Europa se referencia por normas da ISO (Organização Internacional para Padronização), mas a mais completa e que serve de referência para muitas outras vem da American Boat and Yacht Council (ABYC), uma entidade norte-americana sem fins lucrativos que desde 1954 se dedica a estudar e desenvolver padrões de segurança para o projeto, construção, manutenção e reparo de embarcações de esporte e recreio e seus componentes.

 

Essas normas internacionais são aplicáveis ao mercado brasileiro?

 

Em se tratando de normas técnicas em elétrica, dois fatores são considerados na sua concepção: as propriedades naturais físicas e químicas que envolvem instalações elétricas e a padronização para melhor organização e entendimento comum das instalações, facilitando o trabalho e evitando acidentes.

 

A ABYC utiliza alguns padrões norte-americanos para cores de cabeamento, tensão da rede elétrica das concessionárias, modelos de tomadas, medidas em sistema imperial (tamanhos em pés, peso em libras, espessura em AWG), entre outros, que precisam ser adaptados aos nossos costumes.

 

Porém, considerando as propriedades físicas e químicas do ambiente náutico, muitas práticas como a maneira mais eficiente de fazer uma conexão, a escolha e posicionamento de disjuntores e fusíveis ou um sistema adequado de proteção contra raios, podem ser espelhados em normas estrangeiras para aumentar a segurança a bordo de qualquer embarcação.

 

Os danos causados por uma gambiarra mal feita, vão do simples não funcionamento de um equipamento, à avaria de onerosos componentes ou até mesmo a provocação de um incêndio rápido e descontrolado, que pode levar o barco a pique. De acordo com um estudo da US Boats feito entre 2009 e 2013, mais da metade dos incêndios em embarcações nos Estados Unidos foram provocados por problemas elétricos.

 

Agora, voltando à questão original, se gambiarras são vilãs ou aliadas, vou parafrasear um professor do SENAI, o engenheiro Rogério Possobom: “Se você não tem recurso material ou tempo, você está fazendo uma adaptação técnica de improviso, que depois deve ser corrigida. Mas se você tem recurso, tempo e mesmo assim faz uma adaptação definitiva, aí sim você fez gambiarra”. Então, ouvindo o professor, concluo que para se salvar de uma enrascada a bordo, é importante a habilidade e criatividade para fazer uma “adaptação técnica de improviso”, mas sempre que puder, faça sua instalação ou manutenção no melhor padrão técnico possível, para garantir segurança, durabilidade e confiabilidade na instalação.

 

Afinal, barco é para aproveitar, então vale gastar um pouco mais de tempo ou recursos para fazer bem feito e não perder o fim de semana embarcado com a família ou causar um dano irreversível. Ou como diria outro professor, Élio Crapun, “você deve tratar seu barco do mesmo jeito que deve tratar sua companheira (ou companheiro): com honestidade. Senão, ele pode te deixar na mão na hora em que você menos espera”.

 

Por fim, lembre-se: uma gambiarra mal feita pode causar graves acidentes com risco de perdas materiais e humanas. Se você não sabe bem o que está fazendo, não arrisque.

 

*Fonte: Revista Náutica – Pedro Rodrigues é velejador e orientador em Elétrica Náutica certificado pela American Boat and Yacht Council – ABYC