Já cantava o baiano Dorival Caymmi que “o mar, quando quebra na praia, é bonito…”. E quem sabe bem disso é o velejador Aleixo Belov, 78, que nasceu na Ucrânia, mas de europeu só tem a cara. “Cheguei na Bahia fugindo de uma guerra, sem nenhum tostão no bolso. Foi aqui que cresci, prosperei e me apaixonei pelo mar”, conta. O resultado dessa paixão são cinco viagens de barco ao redor do mundo e um museu para resguardar a memória desse amor. Inaugurado nesta quarta-feira (01), o Museu de Mar reúne a história das viagens de Belov e um pouco mais.
“Esse museu é o reconhecimento do carinho que recebi. Quero devolver um pouquinho do amor que recebi desse povo”, explica Belov. Ele investiu R$ 10 milhões no espaço localizado no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, com vista para a baía de Todos-os-Santos.
“Eu tive muita dificuldade de reunir os conhecimentos que precisava para viajar pelo mundo e não quero que isso se perca. Então, resolvi fazer o museu para o pessoal estudar e aprender bastante”, afirma o europeu que, em 2021, se tornou oficialmente cidadão soteropolitano
“O trabalho dele traz um foco para os problemas do oceano. Não tem como falar do mar sem refletir sobre o lixo plástico, pesca predatória… e eu espero que o museu chame a atenção para cuidarmos da baía de Todos-os-Santos”, disse o vereador André Fraga, que propôs a concessão do título de cidadão de Salvador para o ucraniano. Ele foi uma das autoridades presentes na cerimônia de inauguração do Museu do Mar.
Fotografias, objetos coletados nas viagens de Aleixo Belov, telas interativas, projeção de filmes e outras atrações podem ser vistas no museu
O prefeito Bruno Reis também prestigiou o evento. “Eu agradeço pelo equipamento importante, numa região estratégica, o que vai ajudar a ter mais visitantes e turistas”, considerou o gestor.
O museu é administrado pela fundação que leva o nome do velejador e vai funcionar das 10h às 18h, sempre de terça a domingo. A entrada custa R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Crianças de até 5 anos e quem for às quartas-feiras não paga.
Detalhes
No total, são 540 metros quadrados de exposição permanente dividida por três andares. Logo na entrada, o visitante vai encontrar uma linha do tempo com a história de Aleixo Belov. A seguir, poderá conferir diversas peças, fotografias e materiais coletados ou utilizados por Belov nas suas navegações. Na estrutura do museu há ainda recursos interativos, sala de projeção de filmes, área para exposições temporárias, cafeteria e restaurante.
O destaque é o barco Três Marias, com o qual o navegante completou sozinho três voltas ao mundo. Para ser colocado no local, uma enorme abertura no telhado foi feita e um guindaste ergueu a embarcação de 7,5 toneladas. Por determinação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), 3,5 metros do mastro precisou ser cortado para evitar que houvesse alguma intervenção arquitetônica no casarão.
“Antes da reforma, esse era um dos casarões de risco do Centro Histórico. Quando a Fundação Aleixo Belov vem e transforma o local num espaço belíssimo, o que era de risco se torna a manutenção da história”, comemorou Sosthenes Macedo, diretor geral da Defesa Civil de Salvador (Codesal).
Maurício Bacellar Batista, secretário de Turismo do Estado, considerou que o museu é um exemplo de como as empresas e organizações civis podem contribuir no turismo da Bahia. “O turismo só desenvolve toda sua potencialidade quando o poder público e iniciativa privada colocam todas as suas forças”, argumenta.
Já Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM) e colunista do CORREIO, apontou a importância cultural do equipamento. “É um local vivo. Salvador é banhada pelo mar e o museu preenche uma lacuna importante”, diz.
Beleza
Os moradores do bairro também comemoraram. O aposentado italiano Roberto Corradini vive no local desde 2003. Ele quis ver de perto a nova atração turística do Santo Antônio. “Eu não sabia quem era Aleixo Belov, mas soube que ia inaugurar hoje e vim conhecer. É muito bonito mesmo”, afirmou.
Outro presente na cerimônia foi o fotógrafo e fiel escudeiro de Belov, Leonardo Papini, que já trabalhou no jornal Folha de S. Paulo e na editora Abril, mas deixou o fotojornalismo para documentar o trabalho do navegador.
“Em 2013, eu estava em Ilhabela quando fui pedir um autógrafo para Aleixo Belov e na hora recebi o convite para o acompanhar na Argentina. Eu aceitei e, no total, foram 26 meses juntos no barco”, lembra.
A maioria dos registros fotográficos ou em vídeo presentes no museu foi feita por Papini. E está engado quem pensa que a inauguração do museu seja uma espécie de aposentadoria de Aleixo Belov. Seu fotógrafo revelou que a dupla está pensando em se lançar ao mar novamente em janeiro de 2022.
“Vamos para o Norte. Ainda não definimos o local, mas sabemos que será para o Norte”, relata. Para o comandante da embarcação, só muito amor pelo mar justifica a viagem aos 78 anos. “Quero que sirva de inspiração para as novas gerações”, disse.
Fonte: Jornal Correio